4 de outubro de 2006

Edublog, o quê?

Diário de Pernambuco - Informática - Edição de quarta-feira, 4 de outubro de 2006

EDUCAÇÃO // Páginas de professores e alunos voltadas para o conhecimento prometem uma revolução no ensino, atraindo pela autoria na web e reaquecendo o interesse pela sala de aula

Lúcia Guimarães
DA EQUIPE DO DIARIO

Carlos da Silva, 12 anos, é um daqueles alunos da rede pública que não costuma prestar atenção na aula, tampouco dedicar-se aos estudos em casa. É daqueles que falta a aula pelo menos uma vez na semana, não gosta de ler e ainda não pensa numa profissão (ainda). Falta de estímulo ou dificuldade de aprendizagem? Que nada. Como disse durante a sua curta passagem pelo Recife Francisco Pacheco, da Escola de Pontes, em Porto/Portugal - referência mundial em ensino -, apesar do termo estar na moda, dificuldade de aprendizagem não existe. O que existe, segundo o mestre, é dificuldade de "ensinagem". Talvez por isso o blog venha despertando o protagonismo de milhares de alunos mundo afora. E no estado isso não é diferente.

Corrente mais nova quando se fala em educação, esses diários virtuais agora estão servindo para transformar relações na educação, por isso vêm sendo batizados de edublogs. Estas páginas sem caráter "oficial" de qualquer empresa ou instituição de ensino começam a provocar uma verdadeira revoluçãonas salas de aula das redes privada e pública. Ou melhor, nas casas de alunos e laboratórios, pois ela é usada normalmente fora do horário das aulas formais. E acabam por contagiar a todos, afinal, quem não gosta de se sentir-se autor?

Talvez esteja aí o segredo deste "boom": o protagonismo, coisa que no ensino mais tradicional muitas vezes não acontece, pois o foco é o professor, ele é o centro e detentor do conhecimento, quando as linhas mais abertas da educação já afirmam que esse status sumiu do mapa, pois ele hoje deve ser o facilitador de processos de conhecimento, o indutor, e não o centro. "O edublog é uma nova percepção lingüística, que pode permitir ao professor e aluno o papel de articulador do conhecimento. Se sabem que vão ser vistos, passam a ter mais cuidado com a língua e escrita e com as informações, apuram mais, lêem mais", sentencia o doutor em lingüística Antônio Carlos Xavier, coordenador do núcleo de estudos de hipertexto e tecnologia educacional da Universidade Federal de Pernambuco.

Mestra em lingüística e professora de Católica, Neide Mendonça é outra que aposta nesta nova ferramenta como um grande trunfo para o resgate do protagonismo na relação professor-aluno. Para ela, é até uma questão psicológica. "Pela autoria, a pessoa acaba se preocupando mais com a escrita, com a norma culta e a comunicação fica mais atrativa", diz ela.

Escolas - Um dos exemplos no Recife quando o assunto é a nova corrente da comunicação entre professor e aluno é o Colégio Equipe, na Torre. Samea Franceschini é coordenadora de lá e diz que isso é bastante novo, há poucos meses estreou na escola. Mas os resultados já impressionam e começam a contagiar a todos: professores, alunos e famílias. "Muitos alunos dispersos e sem prazer pelo estudo começam a mostrar uma outra face", diz a educadora, que tem sua própria página e está bastante empolgada com o feedback. "O fato de ser da minha responsabilidade, exige que eu garimpe mais, leia mais, escreva melhor, esteja sempre atualizada", acrescenta.

Lá mesmo no Colégio Equipe o Informática pôde comprovar que as correntes mais antenadas da educação têm razão. Alguns professores mostram-se empolgados com o edublog, é como se estivessem resgatando a auto-estima perdida entre tantos educadores mergulhados numa rotina muitas vezes que não permite inovações. Pela simples falta de tempo mesmo (e um pouco de organização talvez). Igor Sasha, professor de geografia, é um deles. Aos 25 anos, acaba de descobrir que pode continuar sua aula com o aluno mesmo sem estar na sala, e o melhor, de forma leve, atual e nem por isso menos importante. "Vou além do conteúdo de geografia, pego coisas correlatas, da atualidade, e tenho me sentido super importante quando percebo que aquele aluno mais inquieto está mostrando-se interessado, por causa da nova ferramenta, e leva o debate para a sala de aula", ratifica.

Outro que adotou foi Rodrigo Acácio, de biologia. Mas alerta: "pensei que era mais simples, mas percebi que para ter conteúdo atrativo tenho que ter mais trabalho, mas é muito gratificante", diz. Já para João Reginaldo, professor de português do Equipe e da rede pública, a página tem um gostinho especial, pois ele acredita que seu edublog está cumprindo um papel importante. "Incentivo a leitura, abrindo discussões sobre livros e envolvendo toda a família", conta. Tudo começa na sala de aula e culmina lá, acaba um impulsionando o outro.

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Fonte: http://www.pernambuco.com/diario/2006/10/04/info1_0.asp

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